Bancos aumentam taxas de financiamento habitacional, enquanto a queda da bolsa paulista adia lançamentos de prédios pelas construtoras. Setor pede socorro ao BNDES Geórgea Choucair Depois de crescer fortemente nos últimos anos, indústria da construção refaz cálculos e agora prevê tempos mais difíceis em 2009 O sinal amarelo acendeu no mercado da construção civil. Os ventos favoráveis para o setor começam a sinalizar alguns redemoinhos. Bancos como o Bradesco e o Itaú subiram suas taxas de financiamento habitacional por causa da crise financeira global. Construtoras e incorporadoras que abriram capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também enfrentam queda nas ações e serão obrigadas a adiar lançamentos. No ramo de material de construção, o setor enfrentava gargalo de oferta antes mesmo de a crise estourar. A queda levou a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) a encaminhar ao governo pedido de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a produção de material de construção. “É uma crise séria que já atingiu o mundo inteiro. Vai acabar respingando aqui”, afirma Paulo Safady Simão, presidente da Cbic. A entidade mantém a estimativa de crescimento de 8,5% para este ano. Simão reconhece, no entanto, que para 2009 os números podem ser atingidos em função do recuo dos lançamentos de construtoras no próximo ano. “Mas não dá para fazer previsões. Estamos no olho do furacão. Grandes empresas entraram na bolsa vislumbrando o mercado futuro, mas não têm como avançar com esses projetos diante da crise”, observa. Apesar da previsão de queda nos lançamentos, ele afirma que os recursos para a produção são necessários para equilibrar a oferta de mercadorias como cerâmica vermelha, madeira, areia, brita e azulejo. “Estamos sem condições de abastecer o mercado”, observa Simão. A entidade vai pedir ao governo que sejam mantidos os créditos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o segmento imobiliário. “Precisamos manter esses recursos no mercado”, afirma o presidente da Cbic. A entidade se reúne hoje com empresários do setor para avaliar novas alternativas para enfrentar a crise. “A situação está se agravando. E, no caso dos materiais, tivemos alta grande de preço neste ano e o preço de vários produtos subiram o dobro da inflação. Enquanto isso, a oferta está pequena”, afirma. Especialistas estimam que 30% das empresas do segmento da construção civil que abriram capital na Bovespa estão em dificuldades financeiras. Muitas construtoras abriram o capital e usaram o dinheiro para adquirir terrenos. O problema é que a maior parte das ações foi adquirida por investidores americanos. Com a crise, eles venderam os papéis para compensar as perdas no mercado externo, deixando as empresas descapitalizadas justamente na hora de construir e lançar os empreendimentos. Foi por esse motivo, por exemplo, que a Tenda acabou nas mãos da Gafisa. “E certamente outras fusões vão acontecer. As empresas com saúde melhor vão acabar comprando os ativos das outras”, observa o presidente da Cbic. Crédito está mais caro e seletivo Nos bancos, o interessado em comprar a casa própria já enfrenta crédito mais restrito e, em alguns casos, mais caro. O Itaú elevou a taxa de financiamento residencial de 9% para 12% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), no caso dos imóveis com valor entre R$ 62,5 e R$ 350 mil. Já nas unidades que custam acima de R$ 350 mil, a taxa está em 12,5% ao ano mais TR. No Bradesco, a taxa de juros de 9% ao ano mais TR, cobrada em julho, passou agora para 10,5% ao ano mais TR, no caso dos imóveis de até R$ 120 mil. Já na linha para imóveis entre R$ 120 mil e R$ 350 mil, os juros subiram de 11,5% mais TR para 12% mais TR. Outros bancos, como Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, estavam até ontem com as taxas mantidas. “Os bancos agora passam a ser mais seletivos. É uma reação imediata”, afirma Paulo Simão, da Cbic. Mas a crise não traz só redemoinhos para o setor, segundo Paulo Tavares, presidente em exercício do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG). “Alguns investidores com dinheiro aplicado estão comprando imóveis. Os investimentos estão sendo feitos até mesmo em unidades residenciais”, afirma Tavares. O diretor do Sindicado dos Comerciantes de Materiais de Construção de Minas Gerais (Sindmaco), Bruno Falci, também afirma que a forte demanda por materiais de construção desde o início do ano ajuda a “segurar” o setor neste momento. “A crise vai nos atingir em proporção menor do que outros setores, em função da forte demanda”, afirma Falci. O segmento estima crescimento de 20% nas vendas no estado neste ano. (GC)