Número de imóveis vagos em condições de serem habitados no estado é maior que o déficit de moradia. Famílias com renda de até R$ 1.245 são as que mais sofrem com o problema Geórgea Choucair As moradias vagas em Minas Gerais são suficientes para acabar com todo o déficit habitacional do estado. E ainda sobram 27,78 mil unidades. O déficit habitacional em Minas é de 721.117 unidades, ou 12,6% do total de domicílios. Enquanto isso, o número de domicílios vagos é de 748.906. Os dados são referentes a 2006 e fazem parte de pesquisa divulgada ontem pela Fundação João Pinheiro (FJP), por intermédio do seu Centro de Estatística e Informações (CEI). O levantamento foi feito em parceria com o Ministério das Cidades, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud). Os domicílios vagos são aqueles em construção ou em condições de serem habitados. O levantamento apurou apenas as unidades que não estão ocupadas. Não foi levada em conta, por exemplo, a região onde estão situados esses imóveis ou o valor médio das unidades. A pesquisa apontou que as famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 1.245) respondem por 93% do déficit em Minas. No levantamento anterior, em 2000, essa faixa de renda da população representava 85,7% da falta de moradia. “O déficit está cada vez mais concentrado na baixa renda”, afirma Maria Bernadette Araújo, coordenadora do estudo e pesquisadora do CEI. Ela ressalta que o acesso maior aos bens de consumo, como aparelhos celulares, eletrodomésticos e eletrônicos, não chegou à casa própria. O déficit habitacional em 2000 era de 640.559 unidades em Minas, o que representava 13,4% do total de domicílios. Em 2006, essa porcentagem caiu para 12,6%. “Em números absolutos, a falta de moradia está crescendo. Mas o percentual em relação ao total cai, em função do crescimento expressivo da população”, observa Maria Bernadette. No Brasil, o déficit habitacional em relação ao total de moradias caiu de 16,1% para 14,1% de 2000 a 2006. A escassez de habitações somou 7,22 milhões e 7,93 milhões, respectivamente. Os estados com maior queda no percentual do déficit nesse período foram os do Norte e Nordeste. No primeiro, o percentual da falta de moradia em relação ao total das habitações caiu de 30,2% para 22% nos seis anos analisados. No Nordeste, essa taxa caiu de 25% para 19,5%. “Essas regiões têm política habitacional forte do governo. Talvez seja por isso estejam com queda maior na taxa do déficit”, observa Maria Bernadette. Os próximos levantamos sobre o déficit habitacional devem apresentar resultados diferentes em relação aos domicílios vagos, segundo Ariano Cavalcanti de Paula, presidente do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG. “O mercado imobiliário mudou muito nos últimos anos. O valor do aluguel de um imóvel usado, por exemplo, tem ficado cerca de quatro vezes acima dos índices de inflação. A absorção da oferta está grande e certamente os números do ano passado e deste ano devem ser diferentes”, observa. O déficit habitacional resulta da necessidade de construção de novas moradias para resolver problemas sociais e específicos de habitação. Fazem parte do déficit os domicílios improvisados (barracas, carros, pontes), os rústicos (sem paredes de alvenaria ou madeira aparelhada), a coabitação familiar (habitação de famílias em um mesmo domicílio) e o ônus excessivo com aluguel (família com renda de até três salários mínimos e gasto de mais de 30% do ganho com aluguel). A coabitação familiar foi responsável por 63,2% do déficit habitacional em Minas em 2006. Em seguida, vieram os gastos excessivos com aluguel (31,2%) e depois a habitação precária (5,6%), que são domicílios rústicos ou improvisados. O estudo da Fundação João Pinheiro usou a base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No próximo levantamento, Maria Bernadette acredita que os números vão ser alterados em função de adequações na Pnad. “A partir de agora, os pesquisadores vão perguntar qual é o motivo que leva a família a morar na mesma casa e se a pessoa tem intenção de mudar de moradia”, observa. O aposentado Antônio Leite tem 10 filhos. Mora em uma casa de 15 cômodos no aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Para conseguir acomodar dois filhos com as famílias, fez dois dos famosos “puxadinhos”. Um na parte de cima e outro na parte de baixo. “Falta emprego para pagar o aluguel. Como minha casa é própria, eles vieram para cá”, afirma Leite. Mas se pudesse optar, Leite não pensa duas vezes ao dar a resposta: cada um teria sua própria casa. “Eles só não têm a casa própria por falta de dinheiro. Aqui no aglomerado a maioria das pessoas vive assim, juntas”, observa. A filha de Leite, Lívia, mora com dois filhos e o marido em três cômodos de sala, quarto e cozinha construídos na parte de cima. O outro filho, Ubirajara, mora com a neta em um sala grande na parte de baixo da casa. No Brasil, 90,7% do déficit estava concentrado nas famílias com renda de até três salários mínimo (R$ 1,24 mil) em 2006. As famílias com renda de três a cinco salários (R$ 1,24 mil a R$ 2,07 mil) representavam 5,5% do déficit, de cinco a dez salários (R$ 2,07 a R$ 4,15 mil) somavam 2,9% do total e as famílias com rendimento de mais de 10 salários representavam 0,9% do total. Maria Bernadette ressalta que a melhoria da renda familiar é fundamental para amenizar os índices do déficit no país. “Se a renda da população cair e os investimentos cessarem, essas taxas tendem a subir”, diz.