Setor registra alta de 40% na procura por imóveis. Programa do governo entra em vigor hoje, sem divulgação das regras Geórgea Choucair As construtoras mineiras especializadas em imóvel para baixa renda já registram aumento nas vendas e na procura de consumidores, antes mesmo de entrar em vigor as regras para o programa Minha casa, minha vida, anunciado em 25 de marçco e que começa a valer hoje. Nos sites e nas lojas, a alta foi de até 40%. Os compradores apostam nos benefícios do programa, mas ainda não sabem, na realidade, qual vai ser o tamanho da vantagem que vão ter com o novo pacote. Isso porque a Caixa Econômica Federal, que vai operar o plano, ainda não divulgou os detalhes e as regras dos contratos, que devem sair hoje. O simulador do valor das prestações dos imóveis, os preços de referência para cada região e o valor de construção para as 400 mil moradias destinadas a famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 1.395), por exemplo, ainda faltam ser divulgados pela Caixa. “Mesmo sem todas as regras definidas, já tivemos aumento de procura de 30% nos nossos imóveis em função do pacote. Apesar de ainda não ter sido divulgado o simulador de preço, quem compra imóvel hoje só assina o contrato daqui a 30 dias. Ou seja, vai dar tempo para ser beneficiado pelo pacote”, afirma Rodrigo Colares, diretor comercial da MRV Engenharia. Cerca de 95% dos imóveis da construtora se enquadram no perfil de consumidor traçado no pacote, com renda de até 10 salários mínimos (R$ 4,65 mil). A construtora mineira Emccamp pretende construir 20 mil unidades dentro do programa habitacional do governo. “Desde o anúncio do pacote já tivemos aumento de demanda de 40%. A maior dúvida, no entanto, está no valor que vai ser definido para as moradias da população com renda de até três salários mínimos”, afirma André Campos, diretor da construtora e de programas habitacionais do Sinduscon-MG. Há 15 dias, a MRV vendeu 250 unidades em oito horas no lançamento do Condomínio Mundi, no Bairro Camargos, em Belo Horizonte. A rapidez nas vendas surpreendeu os executivos da empresa. “O anúncio do pacote na semana do lançamento ajudou muito”, afirma Rodrigo Colares. O escriturário Giancarlo dos Santos Santana foi um dos compradores. Ele comprou seu primeiro imóvel, pagou R$ 70,5 mil e financiou o valor em 20 anos. Santana tem renda mensal de R$ 1,45 mil. “As condições de pagamento ajudaram. Como ainda não assinei o contrato com a Caixa, devo ser beneficiado com as medidas do pacote”, afirma. Além de questionamentos e dúvidas, o programa enfrenta um conflito. Os recursos do pacote, segundo o governo, vão priorizar as capitais, as regiões metropolitanas e os municípios com população acima de 100 mil habitantes, o equivalente a 573 cidades, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Em condições especiais, o programa vai valer para municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, o equivalente a 254 municípios, conforme levantamento da CNM. As cidades com menos de 50 mil habitantes foram totalmente excluídas do pacote. Segundo cálculos da CNM, essa medida deixará 4.737 municípios impossibilitados de acessar os recursos, ou seja, 85% do total das cidades brasileiras. O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, afirma que a iniciativa do governo federal representa ousada estratégia de combate ao déficit habitacional e aos efeitos da crise econômica, mas para que atinja os objetivos propostos, precisa garantir acesso a todos os municípios. Polêmica com custo mínimo do imóvel Paola Carvalho Um fator determinante para o pacote sair do papel é o custo de cada residência, na avaliação do presidente do Sinduscon-MG, Walter Bernardes de Castro. Qualquer divergência quanto ao preço pode travar a boa intenção do projeto, assim como ocorre com o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), promovido pelo Ministério das Cidades, também tendo a Caixa como agente executor. Criado em 1999 para atender a necessidade de moradia da população que recebe até seis salários mínimos, não ergue uma casa sequer há mais de um ano, pelo menos na capital mineira. Segundo o secretário municipal de Habitação, Carlos Medeiros, 7,2 mil famílias foram beneficiadas em Belo Horizonte, entre 1999 e 2007. “Em 2008, o valor ficou defasado e as construtoras passaram a não aceitar fazer obras por R$ 39 mil por moradia”, afirma. Segundo ele, em vez de mudar as regras, o governo aperfeiçoou o modelo e lançou o Minha casa, minha vida. “O PAR foi turbinado”, disse. O governo federal ainda não fixou o valor da residência do novo programa. Especula-se que vai girar em torno de R$ 44 mil. Caso seja confirmado esse valor, nenhuma parede vai subir se depender da indústria de construção. “Em Belo Horizonte, para construir uma casa nos moldes que se espera, com captação de água diferenciada e aquecimento solar, o custo mínimo seria de R$ 51 mil”, pondera o presidente do Sinduscon-MG. “Estando certo do lado do governo federal, podemos enfrentar burocracias, como liberação de licença ambiental e dificuldade para encontrar terrenos”, alerta Walter Castro. Medeiros confirma que encontrar terrenos para obras do PAR já era difícil. “BH tem um território pequeno e topografia difícil. A pouca oferta aumenta os preços”, explica o secretário. Minha casa, minha vida O QUE É Programa habitacional que vai subsidiar a construção de 1 milhão de moradias populares no país, para famílias com renda máxima de 10 salários mínimos (R$ 4.650) O pacote vai contar com R$ 34 bilhões em recursos, para financiar a construção das casas e apartamentos As prestações só começam a ser pagas na hora da entrega do imóvel O pagamento da entrada também é opcional para quem ganha mais de três salários mínimos (R$ 1.395) Data que entra em vigor: 13 de abril DÉFICIT HABITACIONAL URBANO Minas gerais 371,6 mil Brasil 4,67 milhões Fonte: CNM