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Corretores de BH têm que ‘suar’ para mover clientes

Janaína Oliveira Repórter Um bairro pode encantar os moradores. E a relação, às vezes, é um desses casos que podem durar a vida toda. Ainda existe a chance de o afeto passar de pai para filho, e a família continuar ali, morando pertinho. Pesquisa realizada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), em parceria com Caixa Econômica Federal (CEF), mostra que em seis das nove regionais de Belo Horizonte mais de 40% dos moradores desejam comprar um imóvel na sua região. Para ser completa, a realização do sonho da casa própria não pode ser em um endereço distante do atual. O anseio já é observado por especialistas do mercado imobiliário – cuja movimentação financeira na capital beirou os R$ 4 bilhões em 2008 -, que se mexem como podem para intervir no relacionamento duradouro. “Em todas as regiões, é normal os moradores quererem permanecer no seu local. As pessoas, em especial os belo-horizontinos, são muito agarrados às raízes. A migração só acontece com incentivos, como proposta de melhor qualidade de vida e preços convidativos”, diz o vice-presidente de Comunicação do Sinduscon-MG, Jorge Luiz Oliveira de Almeida. O bolso, sem dúvida, é um fator que pesa na hora de pensar a relação. “O corretor tem que refinar a percepção sobre o perfil do cliente. E, embora o foco inicial dele seja sua região original, o que é uma reação natural, o profissional começa a indicar outros locais que podem atendê-lo até melhor, inclusive financeiramente”, conta Ariano de Paula Cavalcanti, presidente do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi). Pai e mãe de primeira viagem, o analista de sistemas Diogo dos Santos, 28, e a advogada Daniela Ramos Santos, 28, mudaram-se há dois meses do apartamento alugado no Nova Suíça para a casa própria no Estoril. “Quando éramos solteiros, vivíamos em Contagem. Depois de casados, em meados de 2007, fomos morar no Nova Suíça. E não queríamos sair de lá de jeito nenhum, até pela proximidade da família. Mas, diante dos preços dos imóveis no bairro, tivemos que buscar uma alternativa”, detalha Daniela. Como a antiga morada era pequena para receber o bebê – ela está no oitavo mês de gestação, e o casal não tinha bala na agulha para bancar os R$ 170 mil pedidos por um apartamento maior, com cerca de 75 metros quadrados, no bairro antigo, a solução foi ampliar os horizontes. “Descobrimos que a uns bairros adiante, já na Região do Buritis, havia imóveis maiores, de 110 metros quadrados e quatro quartos, comercializados a R$ 150 mil. Não resistimos”, conta Daniela, já instalada no novo apartamento. De acordo com o presidente do Secovi-MG, o Buritis é um exemplo clássico de que a separação pode ter um final feliz. “No início, todo mundo achava que o bairro era longe. Mas, hoje, o local tem condições e infra-estrutura até melhores que as da Savassi’, diz ele, lembrando que no início da estruturação do bairro, há uns quatro anos, um apartamento novo de três quartos custava R$ 120 mil, enquanto que um imóvel com características similares chegava a custar R$ 250 na Zona Sul. Já Marco Túlio Silva, diretor comercial da GV Negócios, cita o Castelo. Uma vez descoberto, o bairro viu lotes que custavam R$ 22 mil saltar para R$ 350 mil em apenas sete anos. Mesmo com os valores mais salgados, porém, morar na Savassi, Funcionários, Lourdes e adjacentes é o sonho de muito belo-horizontino. Segundo o levantamento, a regional Centro-Sul é a campeã quando o assunto é a vontade dos moradores locais de comprar um imóvel nas redondezas. De acordo com o estudo, 59,5% dos entrevistados afirmaram que gostariam de virar donos de um “apê” em bairros da região. Em segundo, com 55,6%, aparece a Região Leste. “No passado, esse comportamento era até mais conservador, em torno de 95%”, adverte o presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, que também é sócio da construtora que leva seu sobrenome. Vizinhança é o alvo de construtora Segundo ele, como em muitos casos o cliente recusa-se a arredar o pé do seu bairro, o alvo da construtora e da imobiliária acaba sendo o vizinho. “O cliente mora ao lado. Não adianta gastar recursos para divulgar os empreendimentos na Região Metropolitana como um todo. O negócio é focar a divulgação na localidade e minimizar os impactos negativos durante as obras, como barulho e poeira”, afirma. Conforme aponta, o laço que une morador e bairro é ainda mais forte entre as classes de baixa renda. ‘Aí, além da facilidade de locomoção, contam a camaradagem dos vizinhos, por exemplo, para olhar os filhos, e a proximidade dos familiares”, acredita. A diarista Rosemary dos Reis Moreira, 44, morou por 41 anos na casa onde nasceu – literalmente – no Bairro São Cristóvão, na Região Noroeste de Belo Horizonte. “O parto foi lá mesmo. Minha mãe nem foi para o hospital”, conta. Há três anos, após a morte da matriarca, os irmãos venderam a casa e passaram à condição de vizinhos. Trocaram de rua, mas não abandonaram o São Cristóvão. “Aqui me sinto segura”, diz Rosemary, que pagou R$ 40 mil pela nova residência, onde vive com os três filhos. “Mas os netos estão sempre aqui”, diz, apontando mais uma razão para a permanência. Assim como ela, segundo a pesquisa, 35,1% dos moradores escolheriam o local para ter sua casa própria.