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Reformas sem sufoco

Projetos que prevêem séries de pequenas intervenções normalmente são mais úteis que grandes obras, segundo especialista. Reservar recursos para imprevistos é fundamental Rosana Zica Vânia Lúcia Costa revira caixas toda vez que precisa encontrar a agenda de telefones, uma pasta ou outro objeto que foi empacotado por engano. Há três meses a aposentada vive entre caixotes, encurralada nos únicos dois cômodos da casa no Bairro Prado que não passam por uma reforma radical. Vânia, no entanto, olha para móveis cobertos, montanhas de entulhos e o entra-e-sai de pedreiros, eletricistas e ajudantes e tem certeza de que tudo vai dar certo. “Isso aqui ainda está uma bagunça, mas o que me anima é que vai ficar lindo e que a festa de Natal da família vai ser na casa nova”, diz. A animação de Vânia não é precipitada. O cronograma das obras de reforma em sua casa é seguido à risca e, apesar dos pequenos ajustes para concretizar idéias de última hora, o custo também está dentro do esperado. A previsão é que a reforma termine no fim de dezembro. Com as mudanças nas paredes, a casa ganhou dois quartos e um banheiro. Janelas mais amplas e novas portas de vidro iluminaram e arejaram todos os cômodos. A ardósia deu lugar ao porcelanato e os tacos antigos foram recuperados e transferidos de local. “As infiltrações já não existem”, comemora. Para os profissionais da área, poucas pessoas atravessam uma reforma com a tranqüilidade e o otimismo de Vânia. O engenheiro Maurício Fernandes da Costa ressalta que, quando o assunto é reforma, o planejamento é tão importante quanto o dinheiro para a obra e nenhum passo deve ser dado fora do roteiro. “Em obra, tudo é complexo e arriscado. No caso da reforma, o trabalho começa e você não sabe como termina. Diante de qualquer surpresa, o custo e o prazo aumentam e o investimento ainda pode ser mal aproveitado.” O arquiteto e professor Fernando Pimentel ressalta que, quando há planejamento ruim, a reforma do mesmo imóvel chega a ser feita até três vezes. O primeiro passo para quem deseja uma boa reforma é levantar a situação do imóvel, planejar a reforma, executar o projeto da obra, com orçamento de material e mão-de-obra e tempo previsto para conclusão. A estimativa de custos deve levar em consideração despesas com eventualidade, como problemas na rede hidráulica e elétrica. “É preciso reformar com juízo”, recomenda. Para o professor, não adianta, por exemplo, fazer uma reforma grande sem dinheiro. “Nesses casos, é necessário trabalhar com etapas muito bem planejadas”, sugere. Para Pimentel, é preciso ter cuidado e critério para não começar a reforma derrubando tudo. “Muito material tirado de uma parte da casa pode ser aproveitado em outra e fica bonito”, exemplifica. AUTORIZAÇÃO Antes de realizar a reforma, principalmente quando implica em mudanças na fachada e aumento da área construída, o proprietário deve pedir autorização ao poder público municipal, por meio da Secretaria Municipal de Regulação Urbana. Para obter a licença, é preciso apresentar o projeto da obra ao setor de Análise de Projetos de Edificação da Prefeitura de Belo Horizonte, localizado na Avenida Afonso Pena, nº 4.000. Para quem não tem o projeto e precisa de orientação especializada, o órgão municipal mantém plantões com arquiteto para atendimento gratuito, quando são dadas as informações iniciais. Saiba evitar problemas Especialistas em construção dizem que cuidado deve começar na escolha da mão-de-obra que vai pensar e fazer as obras. Essa simples dica ajuda a evitar desperdício e gastos extras Para evitar dores de cabeça antes, durante e depois da reforma, os profissionais da área de construção dão dicas aos clientes. Para o engenheiro Maurício Fernandes da Costa, o cuidado deve começar na hora de escolher os profissionais que vão idealizar e executar o projeto. Para reduzir risco de problemas com a Justiça do Trabalho, o engenheiro recomenda que o dono do imóvel guarde cópia do contrato e dos recibos de pagamento à empreiteira e outros profissionais e observe as condições de saúde e segurança que os trabalhadores no imóvel. O mestre-de-obras, pintor, bombeiro e encanador Benvindo Ferreira dos Santos é um daqueles profissionais polivalentes cada vez mais disputados no mercado imobiliário. Depois de aprender todas as atividades envolvidas numa obra, atualmente comanda três equipes que fazem apenas reformas. Com o tempo, Benvindo passou a dar ainda mais valor ao trabalho dos especialistas. “Quando é preciso mudança na estrutura do imóvel, chamo um engenheiro para fazer os cálculos. Também trabalho muito bem na parceria com arquiteto e decorador.” Atualmente Benvindo administra três obras na Zona Sul e Região Central de Belo Horizonte. A maioria dos clientes chega por indicação de antigos contratantes. Para Benvindo, que realiza principalmente trabalhos com os moradores dentro do imóvel, o segredo para ser bem-sucedido na área de reforma é ter um time de profissionais experientes e confiáveis. “O cliente que contrata equipe para empreitada está correndo de dificuldades.” Para os donos de imóveis que pensam em fazer uma reforma na casa, apartamento ou loja, Benvindo dá dicas para reduzir o estresse. “O primeiro cuidado é escolher profissionais, não importa se empreiteiro, engenheiro ou pintor, com indicação. Muita gente está entrando no mercado sem experiência em obra e sem nenhuma estrutura.” CONTRATOS Com 37 anos de experiência em construções e reformas, o engenheiro Maurício Fernandes da Costa já foi chamado várias vezes para resolver problemas, principalmente estruturais e hidráulicos de um imóvel em reforma. “Obra é roteiro: se sair fora, compromete o resultado”, avalia. Mesmo experiente, Maurício recorre a parceria com outros profissionais para aprimorar projetos executivos e até executar a obra. “Procuro o arquiteto para projetar o espaço e a decoração. Por falta de bons profissionais disponíveis no mercado, na hora de fazer o serviço, conto com pequenas empreiteiras, muitas vezes familiares”, explica. O contrato para serviço normalmente é feito por empreitada, e o custo do trabalho de engenharia, segundo Maurício, depende do acompanhamento que o cliente deseja para a obra. O material é comprado pelo dono da obra ou pelo engenheiro, com apresentação de vários orçamentos. Maurício Costa destaca que, apesar do planejamento, no momento das obras podem surgir entraves na construção, até então ocultos, que afetam o prazo e o custo previstos. “Os maiores problemas estão nas redes elétricas e hidráulicas, a maioria antiga feita de aço galvanizado e que precisa ser trocada. O uso de tubos de PVC de baixa qualidade também se torna um problema na hora da mudar a estrutura do imóvel, assim como a impermeabilização. Essas são surpresas que elevam custo da reforma”. APRENDENDO COM O ERROS A aposentada Vânia Lúcia Costa diz que, no mês passado, quando os pedreiros começaram a derrubar as paredes de sua casa, pensou que o imóvel fosse cair, mas a presença de um engenheiro na obra trouxe segurança. Com análise criteriosa, a reforma iniciada em julho está em fase adiantada. Com planejamento, foi possível aumentar a área construída, o espaço interno foi redistribuído, grande parte do material reaproveitado e o problema na iluminação dos ambientes está sendo superado. A sensação se segurança vivida pela aposentada é oposto ao que ela viveu há 20 anos, quando comprou o imóvel, no Bairro Prado. Ele não valia muito, mas tinha ótima localização e ela decidiu fazer a primeira reforma. Sem orientação, tudo foi feito picado e improvisado. “Na época, foi uma desordem. Tive dificuldade até para comprar o material de construção. Desta vez, o transtorno vem só da poeira, que parece que é dosada. Até agora não vi nenhum estrago nos móveis. A equipe é profissional e tudo está dando certinho.” Até o fim da obra, a aposentada terá gastado cerca de R$ 80 mil com a reforma. “Foi um ótimo investimento para o meu conforto e também para minhas finanças. A casa valia R$ 350 mil e entrará num padrão de R$ 500 mil. O que investi nas mudanças feitas está quase dobrado no valor da casa”, calcula.